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quinta-feira, 8 de abril de 2010

O QUE É A LOUCURA

O QUE É O LOUCO?
VOCÊ SABE DIZER?
A MEDICINA, A PSIQUIATRIA, A PSICOLOGIA, ACREDITAM QUE SÃO OS DONOS DESSA VERDADE, DESSE SABER - "OS LOUCOS NOS PERTENCEM" - É NO QUE APOSTAM. ESTAS "CIÊNCIAS", DITAM, EXPLICAM, MEDICAM, CONDENAM, ACUSAM, CURAM.
MAS AFINAL, O QUE É UM LOUCO?
QUEM É LOUCO? VOCÊ É LOUCO? TODOS SOMOS? OU NINGUÉM É?
VOU DEIXAR QUE UM "LOUCO" NOS DIGA O QUE É, ENTÃO, A LOUCURA.
"LOUCO" ... SERÁ ELE LOUCO!!!!!!!!!?
BEM AO MENOS ESTE HOMEM FOI CONDENADO AO MANICÓMIO,
AO ELETROCHOQUE.
PASSOU A VIDA ENTRE A LIBERDADE E O CÁRCERE DOS HOSPITAIS PSIQUIATRICOS. ENTRE A GENIALIDADE, A INTENSIDADE E O ABANDONO,
ENTRE A ADMIRAÇÃO E O DESPREZO,
ENTRE CARINHO DOS AMIGOS E O TEMOR DOS MESMO DIANTE DE TAMANHA INTENSIDADE QUE NÃO CABIA EM SEUS POROS, EM SEU CORPO.
ESTE HOMEM, CRIOU O CORPO SEM ÓRGÃOS, PARA LIVRAR SEU CORPO DO ORGANISMO, DAS PRISÕES QUE APRISIONA A VIDA.
ESTE HOMEM É ANTONIN ARTAUD HOMEM QUE VAI AO LIMITE DE SUA LOUCURA CAUSANDO ESPANTO COM TANTA LUCIDEZ,
DEIXO AS PALAVRAS COM ESTE LOUCO/GÊNIO:
Pode-se falar da Saúde Mental de Van Gogh, que em toda a sua vida apenas assou umas
das mãos e, fora isso, limitou-se a cortar a orelha esquerda numa ocasião.
num mundo onde diariamente comem vagina assada com molho verde ou sexo de recem
nascido flagelado e triturado,
assim que saem do sexo materno.
E isso não é uma imagem, mas sim um fato abundante e
cotidianamente repetido e praticado por todo mundo.
(...) e o que é um autêntico louco?
É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana.
Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusavam a ser seus cúmplices em algumas imensas sujeiras.
Pois louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.
(...) Diante dessa sordidez unânime que de um lado se baseia no sexo e de outro na missa e outros ritos psiquicos, não ha delirio em passear a noite com um chapeu coroado por doze velas para pintar uma paisagem natural;
pois como faria o pobre Van Gogh para iluminar-se (...)
Quanto a mão assada, trata-se de heroismo puro e simples;
quanto a orelha cortada, pura logica direta,
e repito,
um mundo que, cada vez mais, noite e dia, come o incomível
para fazer sua maléfica vontade alvançar seus objetivos
não tem outra alternativa nessa questão
a não ser calar a boca.
(...) e aconteceu com Van Gogh o que poderia ter acontecido com qualquer um de nós,
por meio de uma bacanal, de uma missa, de uma absolvição ou quaquer outro rito de consa-
gração, possessão, suncubação, incubação.
Assim a sociedade inoculou-se no seu corpo,
esta sociedade
absolvida,
consagrada,
santificada
e possuida,
apagou nele a consciencia sobrenatural que acabara de adquirir e,
como uma inundação de corvos negros nas fibras da sua arvore
interna,
submergiu-o num ultimo vagalhão
e, tomando seu lugar,
o matou.
Pois está na lógica anatomica do homem moderno nunca
ter podido viver, nunca ter podido pensar, a não ser como possuido.
(...) sem querer fazer literatura, é verdade que vi o rosto de Van Gogh,
vermelho de sangue na explosão de suas paisagens, vir a mim,
num incendio,
num bombardeio,
numa explosão
para vingar a pedra de moinho que o pobre Van Gogh, o
louco, teve que carregar durante toda a sua vida.
O fardo de pintar sem saber por quê e para quê.
Pois não é para esse mundo,
nunca é para essa terra onde todos, desde sempre, trabalhamos,
lutamos,
uivamos de horror, de fome, miséria, ódio, escândalo e nojo
e onde fomos todos envenenados,
embora com tudo isso tenhamos sido enfeitiçado
e finalmente nos suicidamos
como se não fôssemos todos, como o pobre Van Gogh,
suicidado pela sociedade.
Antonin Artaud. In: Van Gogh: o suicidado pela sociedade.
Ps. esse trecho foi tirado do belo livro escrito por Daniel Lins "Antonin Artaud: O artesão do corpo sem orgãos. Vele muito a pena ler.

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